Cine Book Clube no PREFEM: arte, escuta e transformação por trás dos muros

Durante o mês de maio de 2025, o projeto Cine Book Clube realizou com sucesso sua Edição PREFEM, no Presídio Feminino de Sergipe, promovendo três encontros intensos com 20 alunas em cada turma. As sessões, viabilizadas com apoio da Lei Paulo Gustavo, Funcap e do Governo de Sergipe, foram marcadas pela exibição do filme Escritores da Liberdade e uma roda de conversa potente e transformadora.

O filme como ponto de partida

Em cada um dos três encontros, o longa-metragem Escritores da Liberdade foi exibido em uma estrutura de cineclube montada especialmente para o espaço. O filme, que retrata o impacto da educação e da escuta ativa na vida de jovens em situação de vulnerabilidade, foi o fio condutor para discussões profundas entre as internas e os convidados da roda. Após a exibição, a roda de conversa se formava com olhares atentos e corações abertos. A mediação foi feita por três convidados com trajetórias de vida que se conectam profundamente com os temas abordados no filme:

Cesar Griot Nagô, assistente social, trouxe para o diálogo sua vivência no sistema socioeducativo, abordando o racismo estrutural e a necessidade de reintegração social baseada na valorização de histórias de vida. Com palavras que dançavam entre denúncia e poesia, ele foi a voz do acolhimento e da memória.

Isoka Souza, produtora cultural e idealizadora do projeto, falou sobre o poder das narrativas e da cultura como direito. Ao contar sobre o Cine Book Clube e seus objetivos, ela provocou as participantes a refletirem sobre os próprios sonhos e potências.

Diih Ferreira, Bgirl fundadora da primeira crew de mulheres de Sergipe, Flow Minas, representou a força do movimento hip hop, do rap e da dança como ferramentas de empoderamento feminino. Com sua fala firme e inspiradora, lembrou a todas que o corpo é um território político e que a arte é caminho de liberdade.

Além do filme, a biblioteca do PREFEM – Presídio Feminino receberá em Junho exemplares do livro Os Diários dos Escritores da Liberdade, que será lido e debatido com mediação da equipe pedagógica da unidade, em agosto com o retorno do Cine Book Clube para o clube do livro. Essa leitura contará como leitura oficial do mês, válida para o benefício de remissão de pena pela leitura, conforme estabelecido na política da unidade prisional. Um reconhecimento que fortalece a cultura como ferramenta concreta de transformação e reintegração. O objetivo é ampliar a experiência do cineclube, conectando o impacto do audiovisual à profundidade reflexiva da literatura.

Nos bastidores, captamos imagens, vídeos e depoimentos que revelam a potência silenciosa desse projeto. Os sorrisos tímidos, as lágrimas espontâneas, as perguntas corajosas. Tudo isso compõe o registro sensível desta ação que não termina no último encontro — mas reverbera nas vivências das mulheres que participaram.

A cultura como política pública

A Edição PREFEM – Presídio Feminino foi realizada com recursos do edital da Lei Paulo Gustavo, dentro da linha de apoio à Criação, Manutenção e Modernização de Cineclubes no Estado de Sergipe, fomentando o audiovisual como instrumento de inclusão social. Essa conquista reforça que a cultura é um direito e uma política pública fundamental, que deve alcançar todos os territórios — inclusive os invisibilizados.

Um dos momentos mais marcantes aconteceu no encerramento com a terceira turma: após uma troca vibrante de rap, música e poesia entre os mediadores e as internas, uma das alunas, visivelmente inspirada, começou a cantar espontaneamente para o grupo, em voz alta e firme. Sem microfone, mas com muita presença, sua voz preencheu o espaço e emocionou a todos. Foi um gesto corajoso e simbólico — expressão pura de liberdade interior e conexão com a arte. O episódio sintetizou o que o Cine Book Clube busca provocar: encontros autênticos, onde a escuta, a emoção e a expressão ganham espaço mesmo nos contextos mais duros.